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Mestres da Arquitetura: Vilanova Artigas, o arquiteto modernista

Conheça a história e as principais obras de um dos maiores nomes da arquitetura brasileira

por Yeska Coelho Atualizado em 10 Maio 2021, 15h16 - Publicado em
7 Maio 2021
10h00

Quem foi Vilanova Artigas?

João Batista Vilanova Artigas nasceu em Curitiba em 1915, mas apesar de sua origem, ele foi estabelecer carreira em São Paulo. Não apenas como arquiteto, mas também professor, militante político, engenheiro e urbanista.

Formado em engenheiro-arquiteto pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP) em 1937, Artigas tinha uma vocação mais voltada para a parte de edificações, já que, diferente do que acontecia no Rio de Janeiro, onde o curso de arquitetura era mais voltado para Belas Artes, em São Paulo a profissão derivava da engenharia.

Villanovas Artigas

Artigas não se limitava a um ou outro tipo de projeto. Hospitais, prédios, estádios – todo tipo de edificação pode ser encontrado em seu legado, que conta com mais de 700 obras deixadas por ele.

O arquiteto voltou a sua carreira especialmente para o estudo da arquitetura, e mais adiante, defendeu um movimento modernista nacional, que previa a incorporação de elementos da cultura brasileira na criação de obras modernas.

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“Arquitetura é construção e arte”

Vilanova Artigas

Militante de esquerda, Artigas teve grande engajamento com movimentos políticos, e isso se refletiu em suas obras, como os projetos de residência unifamiliar inspiradas pelo que foi chamado à época de “cultura urbana paulista”. Esse conceito foi inspirado a partir dos ideais do Partido Comunista Brasileiro (PCB), ao qual era filiado.

Artigas também foi um grande ativista da regulamentação da profissão e docência de arquitetos no Brasil. Em 1943, funda junto de seus colegas o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB/SP) em São Paulo. Em 1948, participa ativamente da criação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP), onde passou a lecionar.

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A criação da Escola Paulista

O início da década de 50 foi marcada por um cenário político conturbado por causa do acirramento da Guerra Fria. Artigas, que tinha bastante interesse pelo tema, se posicionou contra o imperialismo norte-americano e as influências do país na arte e arquitetura nacional.

Na intenção de fortalecer o movimento cultural no Brasil, ele começou a se aproximar das Belas Artes e da arquitetura carioca – inclusive, um dos nomes do qual se alia é Oscar Niemeyer.

Anhembi Tênis Clube, por Vilanova Artigas em 1961, seguindo a linha de edificações da Escola Paulista
Anhembi Tênis Clube, por Vilanova Artigas em 1961, seguindo a linha de edificações da Escola Paulista (Divulgação/CASACOR)

Apesar da aproximação, Artigas começou a criticar a arquitetura moderna, da qual Niemeyer era adepto assíduo. Nesse momento, Artigas se deparou com o “brutalismo inglês” – o que lhe deu base para construir um movimento inovador como marco da apropriação política na arquitetura: a Escola Paulista.

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Prédio da FAU/USP de São Paulo por Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi
Prédio da FAU/USP de São Paulo por Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi (Divulgação/CASACOR)

Chamada tanto de Escola Paulista como de “Brutalismo Paulista”, tratava-se de um movimento de ênfase construtiva, na qual a criação de grandes vãos e o amplo emprego de concreto armado ressaltavam as edificações. Um dos nomes mais influentes que seguiu o movimento do arquiteto é ninguém mais ninguém menos que Paulo Mendes da Rocha.

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Ditadura Militar: da perseguição à defesa da democracia

Não há dúvidas de que Vilanova Artigas foi um dos arquitetos que mais se envolveu com movimentos políticos. De 1966 à 1969, o arquiteto criou espaços diversos que defendiam a democratização, a convivência comunitária e a ocupação de vias pelo povo.

Seus prédios se caracterizavam por construções sem portas e sem muitas delimitações fortemente marcadas, conectadas por amplas rampas.

Cecap em Guarulhos por Vilanova Artigas
Cecap em Guarulhos por Vilanova Artigas (Nelson Kon/CASACOR)

“O arquiteto não é um apêndice de uma máquina constrangedora e terrível. Ao contrário, cabe-lhe ajudar a dominar, a submeter a estrutura impositiva que transforma o homem em coisa, em vítima de sua própria criatura”

Discurso de Vilanova Artigas à turma de formandos de 1964 da FAU/USP, período no qual esteve exilado após ter sido cassado pela ditadura militar.
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Ele passou a ser perseguido durante a ditadura militar, e junto de Paulo Mendes da Rocha e Fábio Penteado seguia defendendo a arquitetura como uma forte arma contra a repressão. Juntos, eles criaram o Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado (Parque Cecap), em Guarulhos.

Abaixo, confira algumas das obras mais importantes de Vilanova Artigas ao longo dos anos!

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FAU/USP

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(OWAR Arquitectos/CASACOR)

A Faculdade de Arquitetura da USP (FAU) é uma das mais consagradas escolas brasileiras até os dias de hoje. O projeto foi iniciado em 1961 por Vilanova Artigas em parceria com Carlos Cascaldi. O término da construção aconteceu em 1969.

O prédio é um clássico para a arquitetura brasileira. A parte externa é formada por uma estrutura de concreto apoiada sobre trapézios duplos, que cria uma noção de amplitude do espaço. Todos os ambientes são interligados e refletem bem o propósito democrático para os alunos defendido por Artigas.

Estádio do Morumbi

Estádio do Morumbi, por Vilanova Artigas.
Estádio do Morumbi, por Vilanova Artigas. (Itaú Cultural/CASACOR)

O famoso Estádio Cícero Pompeu de Toledo, conhecido como Estádio do Morumbi, lar de tantos clássicos futebolísticos nos dias de hoje, foi uma das construções que merecem destaque na vida e obra de Vilanova Artigas.

O projeto – que hoje é sede do São Paulo Futebol Clube – foi realizado em 1952 e contou com linhas fortes e agressivas em uma construção democrática com amplos espaços abertos, que permitiam uma vista panorâmica.

Com espaço para até 156 mil pessoas, era considerado na época de seu lançamento o estádio com maior capacidade de ocupação.

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Residência de Vilanova Artigas

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(Pedro Kok/CASACOR)

Uma das construções de maior referência para a arquitetura moderna no Brasil foi a residência em que o arquiteto viveu. Os espaços abertos da casa logo refletem o estilo de Artigas em democratizar o acesso e abrir mão de portas e divisórias.

É também uma característica forte do movimento modernista brasileiro o uso de amplas janelas, como as usadas para a construção de Artigas. O edifício foi construído considerando apenas dois níveis. No piso superior, abrigava-se o escritório do arquiteto.

Casa Rubens de Mendonça (Triângulos)

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(Nelson Kon/CASACOR)

Conhecida como Casa dos Triângulos, foi um projeto de Artigas concluído em 1959 em São Paulo. O arquiteto, que era adepto de mesclar arte e arquitetura, investiu na geometria para criar um ponto de atenção para a residência. Incorporou também cores vibrantes, que se tornaram marca do mestre para tantos outros projetos.

A planta foi disposta em três diferentes pavimentos com pé direito variado em cada um deles, o que é percebido pelas bordas inclinadas na própria fachada.

Arte na fachada feita por Francisco Rebolo Gonsales e Mário Gruber
Arte na fachada feita por Francisco Rebolo Gonsales e Mário Gruber (Nelson Kon/CASACOR)

A arte em triângulos da fachada da residência, em branco e azul, foi feita em parceria com Francisco Rebolo Gonsales e Mário Gruber.

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Edifício Louveira

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(Nelson Kon/CASACOR)

Cores vibrantes e uma arquitetura nada simétrica, o Edifício Louveira foi uma obra de Artigas concluída em 1946. O projeto é formado por duas edificações separadas por um jardim central semi público. As esquadrias em laranja e amarelo destacam o prédio em meio a cidade e enaltecem a horizontalidade do pavimento.

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