Mestres da Arquitetura: Zanine, arquiteto honoris causa
Paisagista, maquetista, escultor, designer e arquiteto não diplomado, José Zanine Caldas é um dos maiores nomes da arquitetura e do desgin brasileiro
por Fernanda DrumondAtualizado em 2 out 2019, 16h07 - Publicado em
27 fev 2018
18h13
Zanine Caldas, designer. Divulgação/CASACOR
Paisagista, maquetista, escultor, designer e arquiteto, José Zanine Caldas é um dos maiores nomes da arquitetura e do desgin brasileiro. Autodidata, o baiano de Belmonte começou fazendo presépios com as caixas de seringas do pai médico. Aos 18 anos, estudou desenho, o que levaria sua carreira para o escritório Severo & Villares e o Serviço do Patrimônio Histórico Artístico Nacional – Sphan.
Em 1941, no Rio de Janeiro, Zanine inicia a produção de maquetes em escritório próprio que depois seria transferido para São Paulo. De lá saíam os protótipos de projetos assinados por nomes como Lúcio Costa, Oswaldo Arthur Bratke e Oscar Niemeyer.
A pesquisa sobre materiais e seus desenhos de mobiliário levaram à fundação, em 1948, da “Zanine, Pontes e Cia. Ltda”, mais conhecida como “Móveis Artísticos Z”, uma sociedade entre Zanine, Sebastião Henrique da Cunha Pontes e Paulo Mello estabelecida em São José dos Campos. Seu uso inusitado dos materiais e das formas revoluciona a história do design tupiniquim, inserindo o mobiliário moderno na casa dos brasileiros. A marcar produziu, durante 12 anos, peças para a classe média até a saída do designer da sociedade em 1953.
1/8 Namoradeira, peça criada nos anos 1970 por José Zanine Caldas. (Divulgação/CASACOR)
2/8 Poltrona assinada por Zanine Caldas, Dpot. (Divulgação/CASACOR)
3/8 <span>Uma das criações de Zanine Caldas na década de 1950, a poltrona Cuca foi reeditada em 2016 pelo designer Zanini de Zanine, filho do mestre. A peça chama a atenção pelo espaldar alto e se destaca pelo conforto. O nome é uma homenagem à Dea Dória Zanine Caldas, a Cuca, filha do designer.</span> (DPOT/CASACOR)
4/8 <span>A poltrona Chica faz parte do conjunto de peças criadas por Zanine Caldas na década de 1950 para a Móveis Artísticos Z – fábrica fundada por ele em São José dos Campos (SP) – reeditadas no final de 2016. Cada móvel recebeu o nome ou o apelido de cada um dos seis filhos de Zanine. Com estrutura de madeira maciça, a Chica exibe a riqueza de desenho que caracteriza a obra do mestre e pode ser revestida de tecido ou couro.</span> (DPOT/CASACOR)
5/8 <span>Desenhada no início da década de 1960 por José Zanine Caldas para a Móveis Artísticos Z, fábrica fundada por ele em São José dos Campos (SP) em 1948, a poltrona Zeca traz algumas das marcas inconfundíveis do trabalho do mestre da madeira. Em 2017, o móvel ganhou uma nova edição pelas mãos de seu filho Zanini de Zanine. Fabricada com madeira maciça, a poltrona foi batizada com o apelido de infância de Zanine Caldas.</span> (DPOT/CASACOR)
6/8 <span>Reeditada a partir de desenhos originais, com materiais e processos atuais, a banqueta Zanine X era vendida acompanhando o bar, bastante presente na produção da “Móveis Artísticos Z” nos anos 1940. O Museu da Casa Brasileira, em São Paulo, tem em seu acervo uma peça original da época.</span> (DPOT/CASACOR)
7/8 <span>Com desenho de 1954, essa poltrona Zanine N de linhas retas foi amplamente divulgada em revistas internacionais nos anos 1950. Tem o traço inconfundível de Zanine e as dimensões reduzidas características da época. Foi reeditada em 2009.</span> (DPOT/CASACOR)
8/8 O revisteiro Nini integra o conjunto de peças criadas por Zanine Caldas na década de 1950 para a Móveis Artísticos Z – fábrica fundada por ele em São José dos Campos (SP) – que ganharam uma nova edição no final de 2016. Cada móvel recebeu o nome ou o apelido de cada um dos seis filhos de Zanine. O apelido do filho caçula, o designer Zanini (Nini) de Zanine, dá nome a este revisteiro, que traz os recortes geométricos que marcam a obra do mestre da madeira. (DPOT/CASACOR)
Em São Paulo, desenvolveu projetos paisagísticos até 1958, quando se transfere para Brasília, onde construiu sua primeira casa. Mesmo sem diploma, Zanine chegou a lecionar na Universidade de Brasília (UnB). No final da década de 60, o designer retorna ao Rio de Janeiro, onde constrói diversas casas em Joatinga. O bairro fica entre São Conrado e a Barra da Tijuca sobre os morros cariocas. Com vista privilegiada e geografia acidentada, Zanine projetou dezenas de obras de arte arquitetônicas no local. Entre traços modernos e coloniais, suas casas nunca interferiam no relevo e se adaptavam à natureza local. Ali observa-se soluções para grandes desafios de engenharia e arquitetura: casas abraçam rochas, topos de morros invadem salas e encostas servem como paredes, construindo uma obra de arte no skyline dos mares de morros cariocas.
Em Nova Viçosa, tinha o sonho de criar uma comunidade auto-sustentável e transformá-la em uma capital cultural. com as técnicas caboclas e reinterpreta as tradições artesanais regionais. Nos anos 80, construiu uma oficina para antigos canoeiros e restabeleceu sua ligação com as técnicas caboclas, reinterpretando as tradições artesanais regionais. Lá ajudou a construir a residência do artista Franz Krajcberg.
A atuação de José Zanine Caldas como arquiteto sempre foi alvo de polêmica. O arquiteto e designer não possuía uma graduação que permitisse que assinasse projetos. Ele chegou a ser impedido pelo Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA) de levar adiante algumas construções. Seu domínio da técnica e dos materiais e seu brilhantismo, fez com que Lúcio Costa apoiasse seu reconhecimento. Em 1991, o arquiteto teve a honra de entregar a Zanine o título de Arquiteto honoris causa atribuído pelo IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil). No final da década de 80, seu trabalho foi exposto no Museu do Louvre, em Paris, promovendo seu trabalho internacionalmente. No mesmo período, deu aulas na escola de arquitetura de Grenoble, na França. Confira outros projetos do mestre da madeira.