Planos para feiras de arte em 2021 estão definidos a lápis
Expositores e colecionadores esboçam com cautela suas programações para 2021, sabendo que estão à mercê do coronavírus, portanto, podendo ser alteradas
A paciência, claro, é uma virtude, e parece que os organizadores e expositores de feiras de arte estão em um 2021 virtuoso. Os eventos artísticos que definiram e alimentaram um boom global nos últimos anos estão suspensos desde o início da pandemia e foram adaptados ao online que, consequentemente, mostrou-se menos lucrativo.
Em 2019, as vendas ocorridas nas feiras de arte mundiais chegaram a somar cerca de 16,6 bilhões de dólares, com revendedores contando com esses eventos para gerar mais de 40% da receita daquele ano, de acordo com o Art Basel & UBS Art Market Report do ano passado.
Agora, com os países implementando programas de vacinação, mesmo com o vírus sofrendo mutações e os números de casos aumentando, o mundo da arte está apostando no retorno de eventos presenciais. Em novembro, as feiras presenciais voltaram aos colecionadores locais na China, onde as taxas de infecção diminuíram.
Porém a maioria dos principais eventos internacionais do mundo da arte, agendados para os primeiros meses de 2021, já foram adiados ou convertidos em formatos seguros devido à pandemia.
A feira ARCO Madrid mudou de fevereiro para julho, assim como a Frieze Los Angeles, que este ano deixará os Paramount Studios e estará em diferentes pontos da cidade. O Tefaf Maastricht mudou de seu tradicional mês de março para maio, assim como o Art Basel Hong Kong.
A Frieze New York diz que manterá seu horário normal, mas cortou sua lista de expositores em dois terços e se mudará da Ilha de Randall para o Shed, o novo centro cultural na área de Hudson Yards, em Manhattan.
“Nova York é uma das poucas cidades onde você pode realizar uma feira para 60 galerias internacionais sem ter que contar com um grande público internacional. Há tantos colecionadores na cidade ”, disse Victoria Siddall, diretora do conselho da Frieze em entrevista ao New York Times. “É uma feira muito menor, mas parecia certa para o primeiro semestre.”
Alain Servais, um colecionador de Bruxelas que antes da pandemia costumava participar de cerca de 15 grandes feiras de arte por ano, disse que a crise ofereceu uma oportunidade para eventos regionais menores.
Servais disse ao New York Times que planejava estar na Holanda no início de fevereiro para a Art Rotterdam, uma vitrine principalmente para galerias do norte da Europa que representam artistas emergentes que até então ainda estava programada para ser um evento presencial. Porém as medidas restritivas impostas pelo governo holandês, por conta da pandemia, podem levar ao adiamento da feira até julho.
“Há espaço para feiras locais, se elas tiverem um bom foco”, disse o colecionador. “As grandes feiras internacionais são as mais complicadas para este ano. As pessoas viajarão menos e essas feiras contam com a presença internacional para seu sucesso”, completou.
Essa sacudida no cenário das feiras internacionais ocorre em um momento em que muitos galeristas já questionavam o custo de expor nesses eventos.
“Em 2017, estávamos realizando 12 feiras de arte”, disse Marianne Boesky, uma galerista de Nova York, ao NYTimes. “Eu senti que tinha que fazer esses eventos. Eles ficaram tão caros. Quando eu olhei para nossas arrecadações em comparação com as despesas gerais em feiras de arte, nós mal se quer atingimos o lucro desejado- e isso não contou as horas de trabalho.”
O termômetro para medir como as coisas irão se encaminhar nos grandes eventos de arte acontecerá em junho deste ano na Art Basel, na Suíça. Nos últimos anos, o evento se tornou um local obrigatório para a maioria dos colecionadores internacionais. A feira presencial, que costuma apresentar cerca de 290 expositores atraindo cerca de 90.000 visitantes, foi cancelada em 2020 e convertida para o formato online.
“Se as coisas forem rápidas e na direção certa com novos programas de vacinação, e começarmos a ver um reflexibilidade das restrições de viagens, adoraríamos ter Art Basel Hong Kong em maio e Art Basel em Basel em junho marcando o início de um grande retorno para o mundo da arte e para o mercado de arte”, disse Marc Spiegler, diretor global da Art Basel, ao NYTimes. “Agora, essa é a nossa esperança, mas não é o nosso único cenário.”
Se a Art Basel acontecer, com ou sem as festas e jantares chamativos que a acompanham, uma massa crítica de colecionadores, curadores e conselheiros estará preparada ou terá permissão para voar pelo mundo para estar lá?
“Por mais que eu adorasse participar da Art Basel em junho, não gostaria de comparecer a uma feira até que tal evento não seja a atividade de maior risco para a Covid-19”, disse Heather Flow, uma consultora de arte em Nova York. “Não vou sugerir que um cliente vá a uma feira até que o nível de risco seja menor. Muitas poucas pessoas gostam de comprar arte online, mas ninguém quer a Covid-19.”
Fonte: New York Times