Projeto de renovação urbana discute questões de gênero
Assinado pelos chineses do Wutopia Lab, a instalação tem como objetivo discutir o papel do homem e da mulher na cozinha
Por Nádia Sayuri Kaku
Atualizado em 25 mar 2021, 17:59 - Publicado em 04 mai 2018, 17:59
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(CreatAR Images/Reprodução Archdaily/)
(CreatAR Images/Reprodução Archdaily / CASACOR)
Duas casas - uma rosa e outra azul - se destacam entre as construções de Dameisha, um vilarejo no subúrbio de Shenzhen, na China. As cores vibrantes são, na verdade, uma das formas que o escritório de arquitetura Wutopia Lab achou para discutir os papéis contrastantes do homem e da mulher na cozinha e como isso se reflete nos hábitos diários. A instalação entitulada "His House and Her House" ("Casa Dele e a Casa Dela", em tradução livre) faz parte de sétima edição da Bi-City Biennale of Urbanism/Architecture, que foi inaugurada em dezembro de 2017.
01/11 - "O azul é símbolo de sobrevivência e competição. Já o rosa representa a sensibilidade e a delicadeza", explicam os arquitetos do escritório Wutopi Lab. (CreatAR Images/Reprodução Archdaily)
02/11 - Por meio de uma escada escondida é possível chegar à cobertura da casa. (CreatAR Images/Reprodução Archdaily)
03/11 - Na planta da Casa Dela é possível ver a cobertura projetada para a contemplação da vista. (CreatAR Images/Reprodução Archdaily)
04/11 - O azul e o rosa são cores utilizadas em materiais de isolamento. (CreatAR Images/Reprodução Archdaily)
05/11 - Duas casas - uma rosa e outra azul - se destacam entre as construções de Dameisha, um vilarejo no subúrbio de Shenzhen, na China. (CreatAR Images/Reprodução Archdaily)
06/11 - O maior dos ambientes da Casa Dele possui uma piscina de cerveja e uma parede feita de garrafa de vinhos. (CreatAR Images/Reprodução Archdaily)
07/11 - Na perspectiva é possível ver a localização do quarto branco secreto projetado para destacar o sal. (CreatAR Images/Reprodução Archdaily)
08/11 - Cortinas escondem a varanda e representam a introspecção feminina. (CreatAR Images/Reprodução Archdaily)
09/11 - O sal rosa cobre o chão do jardim e do pátio e combina com a tonalidade da fachada. (CreatAR Images/Reprodução Archdaily)
10/11 - As aberturas originais foram mantidas e as portas persianas se transformaram em grandes janelas, que possibilitam uma integração da parte interna e externa. (CreatAR Images/Reprodução Archdaily)
11/11 - As aberturas originais foram mantidas e as portas persianas se transformaram em grandes janelas, que possibilitam uma integração da parte interna e externa. (CreatAR Images/Reprodução Archdaily)
O Wutopia acredita que tradicionalmente as cozinhas públicas são dominadas por homens e cabem às mulheres o comando das cozinhas domésticas. Para demonstrar as diferenças, eles destinaram cada casa a um gênero e usaram cores que, a princípio, parecem estereotipadas: azul para a construção masculina; rosa, para a feminina. "O azul é símbolo da sobrevivência e da competição. Já o rosa representa a sensibilidade e a delicadeza", explicaram os arquitetos ao site Yellow Trace. E completam: "A delicadeza da existência criada pelas mulheres e o desejo do homem pela existência contribuem para a dualidade de cada um". Os tons também são muito usados em materiais de isolamento.
A Casa Dele
A casa azul térrea é dividida em três espaços de exposição e tem paredes verdes e tetos e pisos azuis – a inspiração aqui foi na paleta de cores do pintor francês Henri Matisse. Formas triangulares aparecem nas molduras das portas e nas maçanetas e reforçam o tom masculino da construção. O maior dos ambientes possui uma piscina de cerveja e uma parede feita de garrafa de vinhos.
Em outro quarto, peças alinhadas de bacon pendem de vigas no teto como se fossem folhas. Em um terceiro ambiente, pedaços de carne são assados no fogo.
(CreatAR Images/Reprodução Archdaily / CASACOR)
Se olharmos a casa como um todo, os ambientes representam itens culinários relacionados ao universo masculino: bebida alcóolica, carne curada e churrasco. As três partes, inclusive, utilizam métodos de preservação de alimentos: fermentação, cura e defumação - ou seja, formas encontradas pelos humanos para se autopreservar. Em uma sala escondida, a iluminação zenital provê luz natural e destaca o chão coberto de sal, ingrediente muito usado também para conservar comida.
A Casa Dela
O sal é o ingrediente que une as duas construções. No entanto, na parte feminina, ele aparece na cor rosa e cobre o chão do jardim e do pátio, combinando com a tonalidade da fachada. Cortinas escondem a varanda e representam a introspecção feminina.
(CreatAR Images/Reprodução Archdaily / CASACOR)
Na parte interna da construção de dois andares, vários ambientes são dedicados a atividades culinárias ditas femininas: duas padarias correspondem ao Oriente e ao Ocidente, salas são dedicadas ao chá da tarde e dois quartos são usados para prática da arte japonesa de arranjo de flores denominada ikebana.
(CreatAR Images/Reprodução Archdaily / CASACOR)
Padrões semicirculares se repetem em portas e maçanetas. As aberturas originais foram mantidas e as portas persianas se transformaram em grandes janelas, que possibilitam uma integração da parte interna e externa.