As enchentes são um problema crônico que ameaça muitas cidades brasileiras. Aliás, essa não é uma questão local: em 2023, o mundo contou com
casos de enchentes simultâneas no
Brasil, Grécia, Hong Kong, Turquia e Bulgária. As
cidades-esponja são modelos sustentáveis que podem contornar esse mal. Esse modelo sugere repensar a forma como a água é tratada pelas cidades atualmente, em que a
captação da água das chuvas é levada diretamente para os rios. "A orientação da cidade-esponja
deve contemplar a escala dos recursos hídricos e ativos ambientais como atributos de qualidade de vida para repensar e transformar as cidades", explica o arquiteto e urbanista especialista em sustentabilidade Sergio Myssior. Além de serem uma solução para os problemas das enchentes, as cidades-esponja também contribuem para uma melhora em vários outros problemas ambientais e até sociais, como a redução dos índices de
poluição e também a criação de
espaços recreativos e de fomento à troca entre pessoas.
O que é cidade-esponja?
O conceito de cidade-esponja é relativamente novo e está diretamente relacionado com o arquiteto, urbanista e paisagista chinês
Kongjian Yu, que conduziu inúmeros projetos sobre
absorção das águas, criação de parques alagáveis e outros instrumentos que se mostraram depois essenciais para a criação de uma das referências em cidades-esponja do mundo, localizada na China. Em 2012, Pequim sofreu com uma enchente que além de gerar danos para a cidade, também tirou a vida de mais de 80 pessoas. No ano seguinte, o governo nacional chinês lançou o “
Programa Cidade-esponja”, que incentivava as cidades a adotar uma
infraestrutura verde (baseadas em
áreas naturais e elementos de água) em vez de infraestrutura cinza (feita com
cimento, concreto, aço e asfalto).
Apesar de ser algo recente, a base teórica na qual as cidades-esponja se debruçam resgatam uma antiga tradição chinesa. Segundo Kongjian Yu, "são inspiradas na antiga sabedoria da
agricultura e da gestão da água que utiliza ferramentas simples para transformar a superfície global em grande escala e de forma sustentável".
Como funciona uma cidade-esponja na prática?
"Dentre eles podemos destacar os parques lineares, os jardins de chuva, os jardins drenantes, as
wetlands, pisos e pavimentos drenantes, valas de infiltração forçada, áreas para retenção e retardo das águas, matas ciliares, corredores ecológicos, hortas urbanas,
telhados verdes, reuso de águas, dentre outros elementos", explica o urbanista.
Ondas de calor e cidades-esponja
As
mudanças climáticas estão provocando
fortes ondas de calor ao redor do mundo. Líderes mundiais e a própria ONU já manifestaram preocupação em relação a essa situação. Para Sérgio, as cidades-esponja podem contribuir para a redução desse mal-estar. "Quando a gente analisa diversos indicadores das cidades brasileiras, especialmente nas regiões metropolitanas, a gente percebe uma
frequência de eventos catastróficos como enchentes, inundações, deslizamentos de terra e vetores de doença como dengue, além de efeitos como ilhas de calor", comenta. O especialista evidencia ainda que a
desigualdade social corrobora com esse cenário, em que pessoas mais necessitadas acabam vendo áreas de risco suscetíveis a enchentes como opção de moradia por falta de opção – e acabam sendo, segundo o arquiteto, as mais vulneráveis aos problemas ambientais.
No Brasil, temos exemplos de cidades-esponja?
Várias cidades brasileiras estão se inspirando no modelo da China para aplicar as técnicas de cidades-esponja, seguindo o exemplo de
infraestrutura verde para uma melhor
qualidade de vida urbana. Belo Horizonte, São Paulo, Niterói são exemplos de regiões que adotaram algumas técnicas como jardins de chuva, áreas permeáveis, entre outras – mas nenhuma delas é 100% uma cidade-esponja. "O grande desafio é você
integrar as políticas de desenvolvimento da cidade e urbana com as ações de
sustentabilidade para que se crie um ciclo virtuoso na cidade. Não se trata de criar 'novas cidades', mas sim de aproveitar a capacidade que as mesmas possuem de se
transformar e regenerar. Mas para isso, é necessária a ação do poder público, sociedade civil, empresas. Todos os setores engajados", explica o arquiteto.