Quem visitou a
CASACOR Paraná 2022, com certeza, reparou no teto do espaço de jantar do ambiente
Clube de Gourmets Evviva, assinado por Studio Architetonika Nomad: o relevo geométrico se destacava sobre a mesa, trazendo texturas e movimento para o espaço. No entanto, a matéria-prima do revestimento é ainda mais impressionante:
as placas são feitas de micélio, a parte vegetativa de um fungo - como um cogumelo - ou de uma colônia bacteriana. "Pense que as coisas vivas são feitas de células. No caso dos fungos, essas células são alongadas e o conjunto delas se chama hifa. Quando há várias hifas, chamamos de micélio", explica o engenheiro Eduardo Bittencourt Sydney, CEO da
Mush, empresa que assina o material usado na CASACOR. No caso dos cogumelos, o micélio fica espalhado embaixo da terra.
As placas fazem parte da coleção Íris, primeiro lançamento da Mush que tem como objetivo aliar o design com a
sustentabilidade e o conforto acústico. “Uma das características do nosso material é a
absorção de ruídos. E ele é indicado para ambientes secos, tanto na parede como no teto”, diz Eduardo. A instalação pode ser feita com cola de contato ou fita dupla face e não é recomendado o uso em áreas úmidas, como banheiros. “É também um material que faz isolamento térmico muito similar ao poliestireno expandido, o isopor. Então,
a ideia é ser um condutor térmico e acústico, mas bonito e sustentável", define.
Participações na CASACOR
A Mush participou pela primeira vez da
CASACOR Paraná 2021 no espaço
Studio Tech SEBRAE, assinado por Luiz Maingué. Ali, a empresa expôs seu trabalho junto a outras startups, em uma área de 1 m². “
Este ano, participamos com 42 m², a maior área já aplicada com produtos de micélio em toda a América Latina”, comemora Eduardo. “A
CASACOR é uma vitrine muito importante neste início da empresa, um local para mostrar que o produto funciona e divulgar nosso trabalho. Ficamos muito orgulhosos da mostra fomentar o uso dessa tecnologia”, diz.
(Marcelo Stammer / CASACOR)
O processo que utiliza o micélio é totalmente sustentável. “Usamos resíduos agrícolas como matéria-prima, um material de origem renovável, algo que já consumiu recursos naturais, ambientais e econômicos. A transformação desse resíduo em produto final é feita com tecnologia carbono zero validada, ou seja, não emitimos CO2 na atmosfera”, esclarece o engenheiro. E, apesar de não ser perecível e não possuir data de validade, caso o revestimento seja descartado na natureza, é totalmente biodegradável. “Seja na terra, areia, água doce ou salgada. Não importa o ambiente que ele vai cair lá no final, sempre vai ser decomposto.
É um ciclo de vida perfeito: o produto nasce no resíduo vegetal, vira um produto comercial e, quando volta para a natureza, ele se transforma em fertilizantes de plantas”, completa Eduardo.
Outros produtos
As placas que revestem o forro do Clube de Gourmets Evviva fazem parte da
coleção Íris que, além dos revestimentos de parede, também possui nuvens com função decorativa e acústica. “A coleção sempre foi branca porque o micélio é branco. No entanto, no último mês, lançamos a versão colorida, feita com uma tinta mineral, que não impacta a sustentabilidade e não afeta a capacidade de absorção acústica”, explica. Pensando nas crianças, a
linha Cosmos traz sol, lua e estrelinhas que brilham quando a luz é apagada. "Falamos muito em ser sustentável, mas olhamos muito pouco para as novas gerações. A ideia aqui é construir a ideia de sustentabilidade desde a primeira infância", conta.
(Reprodução e Marcelo Stammer / CASACOR)
Já a
luminária Íris possui duas fontes de luz: uma em cima com tons mais quentes e outra mais próxima à base, com uma coloração magenta que é capaz de auxiliar o crescimento de plantas dentro de ambientes fechados.
A empresa
"A
Mush começou dentro da Universidade Tecnológica do Paraná, em um projeto de iniciação científica que eu orientei. O aluno era o Leandro Oshiro, que hoje é um dos meus sócios", conta Eduardo. O início com a produção de materiais feitos com a tecnologia de micélio teve resultados rápidos e, após uma bolsa obtida na Fundação Araucária, a empresa nasceu oficialmente em 2019. Durante o período da pandemia, o objetivo de sair da escala de laboratório para a produção comercial também foi alcançado. "Com o investimento de uma aceleradora, nós conseguimos montar uma fábrica em Ponta Grossa. Em 2022, começamos a comercializar nossos produtos para a área de arquitetura e design", explica. A ideia tem dado tão certo que Eduardo pediu exoneração do cargo de professor universitário e se dedica 100% à Mush. "Eu tive que escolher e optei por tocar a empresa, porque é algo que eu acredito muito e que tem um potencial muito grande.
Quero ajudar a construir um mundo melhor com esse material que a gente conseguiu desenvolver", finaliza.