Aos olhos de quem visita como turista, Roma se apresenta como
uma cidade que olha para o seu passado, com seu Centro Histórico declarado Patrimônio Mundial pela Unesco e muita história para contar. Mas a capital da Itália está indo além. Dentro do último palácio clássico barroco erguido em 1880 por vontade de Salvatore Brancaccio (1842-1924), príncipe napolitano casado com a herdeira americana Mary Elisabeth Field (1846-1907), existe um espaço que se dedica à
experimentação da arte contemporânea chamado
Contemporary Cluster.
(Giorgio Benni / CASACOR)
Fundada em 2016 por
Giacomo Guidi, diretor artístico e curador de arte, e por
Giorgia Cerulli, arquiteta e curadora do setor de design, a Cluster ocupa, desde 2021, alguns andares do Palazzo Brancaccio (cerca de 3.500 m
2), e se dedica à troca e à pesquisa, prestando atenção aos diferentes aspectos das culturas visuais:
fluidez,
intersecção de linguagens e
cooperação.
Logo à entrada, para quem chega pela Via Merulana, na vibrante e diversa região de Esquilino – apontado pelo The New York Times como “o bairro” para se visitar na cidade, com a centenária Pasticceria Regoli (1916), o Rocco Ristorante e o Salotto Caronte –, o
contraste entre o antigo e moderno se apresenta. Piso de mármore original, paredes descascadas, pé-direito de cinco metros e objetos de design, pinturas e fotografias nas paredes, instalações e esculturas estão distribuídos pelo local.
(Giorgio Benni / CASACOR)
O térreo concentra o espaço mais importante da galeria, batizado de Africano, com
exposições rotativas e uma preciosa biblioteca de livros e revistas acomodadas em estantes de madeira, com vista para um
espetacular jardim preservado – local onde um dia os jesuítas cultivaram vinhas. Guidi recebe a reportagem para contar a sua visão sobre a importância da arte contemporânea. Ex-integrante da Seleção Italiana de Esgrima e atualmente professor acadêmico, o romano cita os preceitos do teólogo Santo Agostinho (354-430), que pregava que
o tempo existe no espírito humano, e é nele que se encontram o passado, o presente e o futuro. “Quando estamos falando do passado no presente, ele vira presente. E quando falamos do futuro hoje, ele será o presente amanhã.
Você precisa conhecer o passado para avançar”, diz Guidi, para explicar por que a sua cidade precisa recuperar uma vocação natural no cenário de vanguarda que sempre ocupou.
(Giorgio Benni / CASACOR)
Guidi é um apaixonado pelo ato de
observar tendências e acredita que a arte caminha para
movimentos fluidos. “Adoro mudar quando percebo que todo mundo entendeu tudo”, diz, curiosamente, o virginiano com ascendente em Virgem e que achou o espaço no Palazzo Brancaccio para alugar na internet. Em breve, em parceria com uma marca alemã, vai criar um evento para celebrar a cultura
clubber. Até 22 de abril, a Contemporary Cluster exibe o trabalho do artista polonês
Tycjan Knut – telas com ilusão de ótica para provocar o efeito de minimalismo profundo. Em maio, inauguram uma mostra que vai provocar um diálogo entre artistas italianos históricos e jovens, a exemplo de
Andrea Polichetti e
Giulia Manfredi. Em 2024, a galeria apresenta o trabalho do mineiro
Francisco Nuk, que trabalha com madeira em um interessante cruzamento entre mobiliário de madeira, design e arte. O brasileiro foi descoberto pelo curador independente milanês Domenico de Chirico, que trabalha em parceria com Guidi.
Residência subterrânea
Além das mostras, a Cluster abriga artistas em residência no subsolo do Palazzo Brancaccio, o
Cave di Contemporary. Trata-se de um imenso espaço aberto que fica abaixo salas de exposição do Africano; coberto por uma abóbada de berço, comum na arquitetura romana, um ambiente rústico, monumental, escondido e escuro. Dentro dessa “ocupação”, trabalham
cinco artistas escolhidos pela direção da galeria em diferentes manifestações de criatividade e lado a lado, promovendo o
intercâmbio de ideias. No sexto andar, o Apartamento by Contemporary Cluster é um lugar de exposição que explora a área doméstica de viver, com a união de designs históricos e marcas contemporâneas. Cada quarto está pronto para ser habitado pelo visitante. Cada peça, desde a obra de arte, o tapete, a lâmpada e o mobiliário, é produzida por marcas que fazem parte do elenco da galeria.
Cenário de filmes e locação para eventos
Além de abrigar a Contemporary Cluster, o Palazzo Brancaccio, projeto dos arquitetos italianos
Gaetano Koch e
Luca Carmini, é o
cenário natural para locações de filmes, desfile de moda e casamentos. “A Princesa e o Plebeu” de William Wyler, de 1953, com Audrey Hepburn e Gregory Peck, teve cenas gravadas ali; e também “A Grande Beleza” de Paolo Sorrentino, de 2013. A Gucci também escolheu o local para apresentar um desfile de moda e para quem deseja casar-se em grande estilo, o local pode ser alugado. Com essa mescla, a galeria não poderia estar melhor situada em Roma, cidade de contraposições, descobertas e que provoca imenso fascínio há séculos.
Serviço
Contemporary Cluster Via Merulana 248, Roma Terças a sextas, 10h-19h Sábados, 11h-20h