São Paulo é a terra das
kitnets e dos
studios. É uma região conhecida por seus pequenos apartamentos, especialmente no centro urbano, com imóveis que variam de 25 m² a 45 m². Decorar esses espaços já é um grande desafio, mas imagine só uma
casa que conta com menos da metade desses valores? Essa é a realidade de Francisco da Silva, mais conhecido como "Tiquinho", morador do Jardim Colombo, trabalhador de reciclagem de 58 anos de idade, que adquiriu um espaço de
4 m² há três anos pelo
valor de R$ 2 mil.
O que é considerado como um pequeno cômodo para muitos é toda a casa do Tiquinho, onde estão presentes um
sofá, um
vaso sanitário, algumas prateleiras e uma
cama suspensa próxima ao teto.
Ester Carro, do elenco
CASACOR São Paulo 2023 e arquiteta do Fazendinhando, movimento ativista que realiza
mutirões de habitação em periferias de São Paulo, conheceu o Tiquinho quando ele se voluntariou para ajudar na construção da residência de uma de suas vizinhas.
"Conversando com o Tiquinho durante o mutirão, eu acabei conhecendo a casa dele e eu não acreditava. Foi um choque. Existem várias casas minúsculas, mas a dele é a menor do Jardim Colombo", contou Ester.
Sem acesso a água, sem banheiro e sem geladeira, a residência de Tiquinho entrou como uma das prioridades do Fazendinhando. "Tiquinho é bem caprichoso, deixa as coisas bem organizadas. Ele tem um zelo muito grande pelo que ele tem, apesar de ser precário, ele cuida muito bem".
Projeto de ampliação
Ester Carro está à frente do projeto de
ampliação da casa de Tiquinho, que contará com um novo cômodo – de pouco mais de 1 metro – que servirá para criar um banheiro. Embaixo de uma escada, esse espaço foi disponibilizado por uma vizinha que mora na parte de cima da casa de Francisco.
A arquiteta redesenhou todo o projeto, desde a
distribuição dos cômodos até a parte hidráulica – que praticamente não existe, visto que atualmente Tiquinho não tem água dentro de casa. Também está no plano de Ester repensar a parte elétrica para trazer mais conforto para o morador. "Tudo está sendo adaptado e pensado para que ele tenha conforto e a dignidade mínima que qualquer pessoa deveria ter", afirma Ester.
Por se tratar de um ambiente super pequeno, todos os
ajustes previstos serão feitos sob medida e os
móveis e eletrodomésticos serão menores. Por exemplo, no lugar da geladeira será usado um congelador menor. "Ele não tem lugar para lavar as mãos e preparar os alimentos. A ideia é criar uma bancada de um tamanho menor, com cuba e um
cooktop de duas bocas".
Fachada nova
Apesar do espaço pequeno, Tiquinho fez questão de decorar a fachada da casa com vasos suspensos e algumas plantinhas. Ester explica que haverá uma
reforma para trocar a porta – hoje de madeira, ela passará a ser de
alumínio com tranca, já que a casa hoje é protegida apenas por um cadeado.
A vantagem de usar uma porta de alumínio em detrimento da de madeira está em sua abertura, que
melhora a ventilação dentro de casa. As
esquadrias também serão substituídas por opções menores. Ester acredita que essa ideia irá mostrar à comunidade que existem
alternativas às janelas padrões frequentes nas residências da região; estas que muitas vezes podem apresentar problemas, já que as paredes costumam ser conectadas às casas dos vizinhos.
Quarto aconchegante
Com uma cama elevada e sem colchão – que foi perdido durante as fortes chuvas do começo do ano –, toda a área do quarto de Francisco é representada por esse elemento. Dessa forma, a ideia da arquiteta é
refazer a laje que serve como estrutura para o quarto usando um
material mais leve e que
otimiza espaço. Também será
implementada na lateral uma
escada de madeira com placas OBS para que ele consiga subir e descer de sua cama de maneira mais segura e rápida. Ester pretende começar a reforma da casa no final de março, que vai depender da
campanha de arrecadação de dinheiro para comprar os materiais necessários, mas como há urgência, a expectativa é que aconteça até, no máximo,
início de abril.