Pela primeira vez na história, o Pavilhão Brasil se tornou o vencedor do Leão de Ouro da 18ª Bienal Internacional de Arquitetura de Veneza. A premiação, que aconteceu no último sábado (20) no Ca' Giustinian, sede da Bienal de Veneza, reconheceu o projeto – que teve curadoria dupla de Gabriela de Matos e Paulo Tavares – graças à sua "exposição de pesquisa e intervenção arquitetônica que centra as filosofias e imaginários da população indígena e negra em modos de reparação".
Pavilhão Brasil na 18ª Mostra Internacional de Arquitetura na Bienal de Arquitetura de Veneza em 2023. - Divulgação / CASACOR
Com o título "
Terra", o Pavilhão Brasil colocou a terra no
centro do debate: tanto como poética quanto como elemento concreto no espaço expositivo. Dessa forma, o pavilhão – completamente aterrado – coloca os visitantes em contato com as chamadas
arquiteturas ancestrais, ou seja, as realizadas por
comunidades indígenas, quilombolas e sertanejas, além dos terreiros de candomblé; indo portanto diretamente de encontro com o tema da Bienal de Veneza em 2023, "
Laboratório do Futuro".
Essa é a primeira vez também que a Bienal de Veneza coloca os holofotes sobre a
África e a
diáspora africana. Com o mote “é impossível construir um mundo melhor se não o imaginarmos primeiro”, a exposição não pretende retratar uma história única, mas contar “várias histórias que refletem o
caleidoscópio deslumbrante e irritante de ideias, contextos, aspirações, e significados que respondem às questões de seu tempo", nas palavras de Lesley Lokko, arquiteta, acadêmica e romancista ganense-escocesa, curadora do evento neste ano.
Pavilhão Brasil na 18ª Mostra Internacional de Arquitetura na Bienal de Arquitetura de Veneza em 2023. - Rafa Jacinto/Fundação Bienal de São Paulo / CASACOR
Sobre o projeto, os curadores disseram: “Nossa proposta curatorial parte de
pensar o Brasil enquanto terra. Terra como solo, adubo, chão e território. Mas também terra em seu sentido global e cósmico, como planeta e casa comum de toda a vida humana e não humana.
Terra como memória, e também como futuro, olhando o passado e o patrimônio para ampliar o campo da arquitetura frente às mais prementes questões urbanas, territoriais e ambientais contemporâneas".
Nas redes sociais,
Gabriela de Matos, primeira curadora negra da história do pavilhão brasileiro, se manifestou: "
Há tempos venho pensando o quão importante seria que o cenário mundial de arquitetura soubesse sobre a arquitetura afro brasileira, essa que surge a partir da diáspora africana e se desdobra em um modo de ser e de fazer singular. (...) Pois bem, aqui estamos com apenas dois dias após a abertura de “Terra”, a exposição que é resultado dessa reverência a esses saberes e formas ancestrais, e então o reconhecimento disso vem através do Leão de Ouro de melhor participação Nacional para o nosso pavilhão do Brasil".O júri votante da Bienal de Veneza em 2023 contou com o arquiteto italiano e presidente do júri
Ippolito Pestellini Laparelli; além de
Nora Akawi, da Palestina; a norte-americana
Thelma Golden;
Tau Tavengwa, do Zimbabwe; e
Izabela Wieczorek, da Polônia.