Elenco aposta na recuperação de peças, ambientes originais e no mix entre antigo e contemporâneo
Atualizado em 12 jan 2021, 11:46 - Publicado em 11 dez 2020, 13:23
(André Nazareth/)
Recuperar, revitalizar, renovar: essa vem sendo a tônica na montagem da CASACOR Rio de Janeiro especial de 30 anos. O elenco de arquitetos, designers de interiores e paisagistas teve um olhar todo especial para a casa que recebe esta edição e está tirando proveito de cada um dos muitos detalhes arquitetônicos do espaço. Do rodapé de madeira maciça aos lustres luxuosos. Das treliças das portas do banheiro aos pisos de jacarandá e mármore. Dos tetos decorados às maçanetas de murano com desenhos únicos para cada uma das portas da Residência Brando Barbosa.
"Em um momento de recursos escassos no planeta, é importante ter esse olhar para a sustentabilidade, e essa casa propicia isso. Ali, cada mínimo detalhe foi pensado, planejado e adquirido pelos antigos proprietários. São peças lindíssimas produzidas com materiais resistentes e nobres que estão sendo muito bem aproveitados pelo nosso elenco", conta Patricia Quentel, sócia-diretora da mostra junto com Patricia Mayer.
Na Suíte de Hóspedes, ambiente projetado pela dupla de arquitetos Ângela Leite Barbosa e Daniel Marques Mendes, a preservação será total. "Estamos produzindo a menor quantidade de resíduos possível, com praticamente nenhuma demolição e o reaproveitamento de pisos, tetos, armários, azulejos originais, maçanetas de murano, portas, rodapés e janelas com entalhes de marcenaria", conta Ângela, que traz ainda o conceito de biofilia para a mostra, pensando no conforto ambiental e integração com a natureza da casa que é cercada por 12 mil m² de jardim.
Os jardins, aliás, prometem estar entre os espaços mais disputados nesta CASACOR Rio de Janeiro. Um deles, o Pátio da Escultura, receberá uma intervenção especial do arquiteto Ivan Rezende em parceria com a Embya Paisagismo. Será, na verdade, um espaço para a contemplação cercado por uma estrutura construída com suportes plásticos e chapas de aglomerado recicláveis que mantém o solo em grama existente preservado e ainda podem ser reaproveitados após a mostra.
Dentro da casa, os exemplos de revitalização aparecem em praticamente todos os 38 ambientes da mostra. A arquiteta Andrea Chicharo, que está fazendo uma biblioteca, aproveitou uma enorme estante que havia no ambiente original. O móvel, contudo, vai ser totalmente modernizado com a substituição de prateleiras por nichos num estilo mais contemporâneo. A estrutura também vai ganhar a mesma cor da parede, o que ajuda a tornar a peça mais leve. Já as portas, vitrais e sancas, existentes no espaço, permanecem exatamente como são.
"Acho interessante manter a história da casa criando um contraste com ambientes em estilo contemporâneo. Não é um ambiente que poderia estar em qualquer lugar. Mas hoje, ninguém quer desperdiçar tudo. Então, é preciso saber valorizar as boas peças e atualizá-las", diz a arquiteta.
A dupla Andréa Duarte e Anna Malta foi ainda mais longe e vai manter parte de seu espaço igualzinho. Justamente para permitir que o público conheça uma parte da casa como ela é: o pequeno hall que leva à cozinha da casa fica original. Já a cozinha está sendo transformada pelas arquitetas em uma cozinha de estar. Ali, todos os armários estão sendo preservados e pintados para ganhar um ar mais contemporâneo.
Geladeiras industriais do ambiente também foram mantidas. Apenas uma, que estava sem condições de uso, foi desmontada, mas parte de suas peças será usada na criação de um bar – esse é um dos muitos upcycles criados pelos profissionais dessa edição. "Estamos tirando proveito de todos os elementos que existem: o piso de mármore branco vai ser limpo e polido, os azulejos, as sancas, as portas e janelas, tudo fica", conta Anna. "Vamos usar como adornos peças originais da casa como sopeiras, jarras de flores, pratos, copos".
Outra dupla que vem trabalhando o contraste do antigo com o contemporâneo é Catarina Gouvêa Vieira e Manu Cardim. Estreando na CASACOR Rio de Janeiro, as duas arquitetas estão fazendo poucas intervenções no lavabo com hall da casa, que se abre para o jardim.
Obras de artistas jovens e algumas peças mais contemporâneas – inclusive um oratório do arquiteto Dado Castello Branco numa alusão à história da casa que tem muitas obras de arte sacra e peças originais de conventos e igrejas do interior do país -, vão garantir a valorização da arquitetura original do palacete. "Quisemos de fato tirar partido da casa, valorizando o ambiente. Jamais poderíamos esconder alguns detalhes tão ricos como o teto abobado e aquele hall super-rebuscado", conta Manu.