Localizada na zona leste da cidade de São Paulo, a aldeia Hãinve Ti Vai Keié é onde acontecem os encontros e rituais do povo Dofurêm Guaianá, que luta em busca do reconhecimento das autoridades do território chamado de São Miguel Paulista. Com cerca de 500 pessoas nos dias de hoje, o povo Dofurêm Guaianá, originário deste território, vem lutando contra a exterminação e a gentrificação.
“Eu costumo dizer que quando se fala de São Paulo, o que a grande maioria chama de cidade, nós do povo Dofurêm Guaianá – originário deste território – chamamos de casa", afirma Andrey Guaianá Zignnatto, artista, ativista de projetos sociais e indígena mestiço da família Guaianá e Guarani M’bya que é um dos artistas envolvidos em um projeto inovador chamado “Retomada Territorial”, que transformará a terra dos Dofurêm Guaianá em uma aldeia sustentável. O objetivo é demarcar a área como um verdadeiro lar dos indígenas, misturando conceitos arquitetônicos contemporâneos com a cultura ancestral do povo originário.
População indígena em São Paulo
Projeto sustentável em aldeia marca a luta pela retomada do território - João Athaide / CASACOR
Celebra-se hoje (7) o
Dia Nacional da Luta dos Povos Indígenas – data criada em 2008 com o intuito de dar visibilidade às pautas dos povos originários, como a demarcação de terras, os direitos e a preservação da cultura.
Ainda que desconhecidas do grande público, o estado de São Paulo tem 38 terras indígenas, de acordo com a Comissão Pró-Índio de São Paulo (CPI-SP) – e é o
4º município com maior população indígena absoluta no Brasil, contando com quase 13 mil pessoas. Andrey Guaianá Zignnatto explica como a desinformação, o preconceito e o fetichismo afastam a população indígena, mesmo que numerosa, das áreas urbanas do estado. “As bases da estrutura social de uma comunidade indígena são muito diferentes das bases de uma sociedade urbana, o que aponta para a urgente necessidade de flexibilização dos sistemas das instituições locais para também atenderem às demandas dos indígenas que aqui vivem. Em resumo, nós precisamos de espaço: físico, territorial e institucional”.
Aldeia sustentável
Projeto sustentável em aldeia marca a luta pela retomada do território - João Athaide / CASACOR
Desenvolvido pela Alphaz Concept, incorporadora brasileira que realiza projetos de arquitetura com responsabilidade ecológica, o projeto sustentável da aldeia
Hãinve Ti Vai Keié inclui edificações que reúnem, além dos círculos de rituais, da floresta preservada e da casa fortificada, também uma loja de artesanato e soluções sustentáveis como usina fotovoltaica, biodigestores e armazenamento de água da chuva. O projeto é assinado por
Thaisa Kleinubing, arquiteta especialista em sustentabilidade, eficiência energética e Green Building pela Universidade de Aalborg, na Dinamarca.
Projeto sustentável em aldeia marca a luta pela retomada do território - João Athaide / CASACOR
Ela explica que a ideia é fazer uma implantação das edificações
aproveitando os espaços livres existentes, fazendo uma mínima intervenção no solo e vegetação e usando as clareiras existentes para construção.
Entre as edificação tradicionais, estarão incluídos: uma casa fortificada, uma casa na árvore e uma casa de inverno. Já nas construções contemporâneas, incluem-se: recepção, loja, centro cultural, área de apoio e uma área externa de eventos e rituais.
Projeto sustentável em aldeia marca a luta pela retomada do território - João Athaide / CASACOR
A sustentabilidade estará presente no projeto através de tijolos ecológicos, sistemas de biodigestor, sistema voltaico, reuso de água da chuva e argamassa. “Os espaços com tecnologias sustentáveis poderão servir também para fazer uma educação ambiental não só dos indígenas, mas da própria comunidade ao redor. Além disso, a aldeia será um local de retomada do território que servirá para lembrar a história não só da invasão e chacina promovida pelos invasores, mas da resistência”, argumenta.
Andrey destaca que o projeto dará ao seu povo não apenas um lar, mas também “restaurará a nossa identidade como nação, a nossa memória ancestral e mostrará para os outros que nós ainda estamos vivos, e que não conseguiram nos extinguir”.