Gustavo Utrabo, sócio-arquiteto do escritório que assina o projeto em conjunto com Rosenbaum, comenta como foi a experiência
Atualizado em 18 dez 2020, 19:36 - Publicado em 09 jan 2021, 10:00
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A Escola da Fazenda Canuanã, projeto da Rosenbaum e Aleph Zero, recebeu mais uma premiação: Building Of The Year 2018 (Prédio do Ano 2018), promovida pelo ArchDaily. Além dessa honraria, a Escola foi indicada ao RIBA Awards, escolhida para participar da Bienal Internacional de Arquitetura de Veneza e venceu primeiro lugar o Prêmio de Arquitetura Instituto Tomie Ohtake AkzoNobel 2017.
Localizado na zona rural de Formoso do Araguaia, o terreno da Fazenda Canuanã engloba três biomas, o cerrado, a floresta amazônica e o Pantanal. Há quase 40 anos, ela abriga uma escola internato mantida pela Fundação Bradesco. O objetivo da reforma era oferecer novas moradias para as crianças e jovens que ali estudam. A equipe de arquitetos e profissionais foi até Tocantins para entrar em contato com os alunos e moradores para que pudessem compreender suas necessidades, demandas e ouvirem suas histórias. Essa aproximação é a proposta do Instituto A Gente Transforma, de Marcelo Rosenbaum. O resultado foi uma arquitetura humana, que reflete culturas.
Em entrevista à CASACOR, o sócio-arquiteto do escritório Aleph Zero, Gustavo Utrabo, comentou como foi sua experiência.
Como foi o contato com as crianças e jovens e como foi a experiência de imersão na realidade deles?
Foi uma experiência incrível, são jovens e crianças muito amorosos e com uma educação muito bonita. Eles possuem um interesse pelo outro que até então não havia visto, um exercício da presença em busca do conhecimento não usual, pelo menos para mim.
Como foi o trabalho criativo em equipe, com Marcelo Rosenbaum?
Foi uma experiência muito interessante, o Marcelo possui um olhar muito sensível as pessoas e a cultura popular. Acredito que tenham sido expertises que se somaram, no sentido que nosso olhar de arquitetos provém deste campo do conhecimento, que também envolve a cultura popular como o olhar da Lina Bo Bardi por exemplo, mas carrega uma bagagem construtiva.
A Fazenda Canuanã fica distante dos grandes centros urbanos. Qual foi a maior dificuldade técnica que vocês encontraram na execução das obras?
Acredito que a pergunta já é muito precisa, nosso maior desafio de fato foram as distâncias, tudo demorava muito a chegar, assim o projeto foi um exercício nesse sentido de como construir longe. Como resposta a isto, grande parte dos elementos foram pré-fabricados e montados no local, assim ganhamos agilidade, precisão construtiva e um controle financeiro maior.
Como foi a reação dos alunos e funcionários ao receber o projeto? Eles se identificaram na arquitetura?
Eu talvez seja suspeito para responder esta pergunta, mas até onde me contaram todos receberam o projeto muito bem e estão desfrutando. A questão de se identificar com a arquitetura é muito pessoal e perigosa, para que todos se identificassem com o símbolo arquitetônico esse símbolo deveria ser reconhecido por todos e que, no caso das crianças, já seria impossível, no entanto acredito que o projeto possui uma generosidade espacial e um cuidado construtivo, isso sim acredito que seja algo de fato que impacta o dia-dia das crianças, pois a edificação ficará por pelo menos 60 anos, então ela não poderia ser um olhar somente para o presente ela tinha que ser um olhar para o futuro.
O exercício de utilizar técnicas atreladas à região transcende o simples se identificar, ele possibilitou um legado construtivo como uma possibilidade do saber fazer, o que acho muito bonito como traço de uma cultura.
Vocês estão sendo (mais que merecidamente) reconhecidos em nível internacional. Quais são os novos planos?
Acredito que os prêmios nos ajudam como um bonito incentivo, mas não são a finalidade. Somos um escritório muito pequeno, cheio de energia e não possuímos uma formatação rígida, o que nos possibilita investigar muitas coisas distintas.
Gostamos muito de fazer casas, elas são uma possibilidade muito interessante de desenvolvimento, no entanto, como brasileiro, acredito que temos que possuir um olhar cívico para um desenvolvimento nacional, digo desenvolvimento não somente por um olhar econômico, mas algo mais holístico, não podemos mais ignorar partes da nosso sociedade ou achar que este problema será resolvido depois, assim entendo que precisamos trabalhar em conjunto, como sociedade e o arquiteto possui um papel importante nesse contexto que precisa ser ainda mais desenvolvido.