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Arte, Design

3 artistas em exposição na SP-Arte que elevam os tecidos a obras-primas

Gilda Azevedo, Madeleine Colaço e Nara Guichon: conheça as três artistas que fazem do manuseio dos tecidos uma expressão artística singular

Por Maria Fernanda Barros

Atualizado em 28 ago 2024, 18:09 - Publicado em 28 ago 2024, 18:09

08 min de leitura
Da esquerda para a direita: Madeleine Colaço, Gilda Azevedo e Nara Guichon

Da esquerda para a direita: Madeleine Colaço, Gilda Azevedo e Nara Guichon(Divulgação/)

"Isso não é arte, é uma mulher que faz bordado em casa". No contexto em que Madeleine Colaço iniciou o trabalho com os tecidos, a artista plástica e tapeceira lidou com discriminações que soavam como essa frase, conta o filho, Jorge Colaço. Ao contrário do que as palavras estigmatizantes diziam, as tapeçarias de Madeleine são mundialmente consideradas obras de arte, além darem vida a um método revolucionário de tecer, o chamado Ponto Brasileiro. Na edição que inicia hoje da SP-Arte Rotas Brasileiras, as obras-primas de Madeleine estão em exposição junto a outras importantes mulheres da tapeçaria e das artes plásticas: Nara Guichon, conhecida por suas esculturas têxteis pendentes do teto, e Gilda Azevedo, que utilizou o método de Madeleine para criar peças de tapeçaria mural abstrata. A seguir, conheça as obras e as histórias dessas 3 artistas em exposição que te esperam esta semana na SP-Arte.

Portão, por Madeleine Colaço


Portão, de Madeleine Colaço, década de 1960.
(Silvia Balady/Divulgação / CASACOR)
Misturando cores, materiais com brilhos diferentes e um método autoral que, anos depois, viria a ser tombado como Patrimônio Histórico Imaterial pela Prefeitura de Maricá, Madeleine Colaço deixou sua marca na tapeçaria nacional. Com a tecnologia denominada Ponto Brasileiro, a tapeceira desenvolveu obras como Portão, feita na década de 1960. "Ela transformou a tapeçaria em uma obra de arte devido à qualidade e à brasilidade do seu desenho. Ela também era uma tremenda colorista, e ainda desenvolveu uma tecnologia única no mundo", comenta Jorge Colaço, filho de Madeleine que, por muitos anos, acompanhou de perto a carreira da mãe. O legado de Madeleine consegue ir além das contribuições artísticas e estéticas ao mundo dos tecidos — a tapeceira fez do próprio trabalho uma ferramenta de transformação social no Rio de Janeiro. Na penitenciária de Bangu, Madeleine passava adiante seus conhecimentos ensinando mulheres encarceradas a confeccionarem tapetes; e no bairro do Espraiado, em Maricá, a artista causou impacto nos índices sócio-econômicos ao ampliar as perspectivas de várias mulheres camponesas. "Ela mostrou a importância de dar trabalho à mulher no campo. Ela manteve, com o bolso dela, uma escola no Espraiado, em Maricá, por 27 anos. Depois, um pesquisador do IBGE me telefonou dizendo que graças ao ateliê da minha mãe, o IDH do Espraiado era igual ao IDH do centro da cidade", relata Jorge.

Lã Bordada, por Gilda Azevedo


Lã Bordada, de Gilda Azevedo, 1968
(Divulgação / CASACOR)
Inspirada em Madeleine, Gilda Azevedo marcou a arte dos tecidos utilizando o Ponto Brasileiro para criar as obras mais ilustres da tapeçaria mural abstrata. A partir de tons terrosos, cinzentos e, ocasionalmente, verdes e brancos brilhantes, Gilda elaborou tapeçarias que dão vida a paisagens mágicas e inacessíveis. Segundo Graça Bueno, curadora e diretora da Galeria Passado Composto, "Gilda explora o grande espaço cósmico, oferecendo uma experiência que estimula o intelecto e a intuição por meio de um ritmo dinâmico e uma composição harmoniosa que representa a criação e o infinito".
Diferentemente de Madeleine e Gilda, Nara Guichon não considera que faz tapeçarias: "Eu digo que faço esculturas têxteis, porque são poucas as minhas obras que são de parede, a maioria delas é pendente do teto. Por isso, elas estão mais para escultura do que para tapeçarias, embora a técnica possa ser de tapeçaria", explica a artista plástica. As obras de Nara a única ainda viva entre as três são desenvolvidas, segundo ela, a partir de três elementos: a textura, a cor e o elemento reutilizado. O lixo oceânico é o seu principal ponto de partida: "A minha motivação é mostrar que esse lixo não é lixo, ele só está submerso. Essas redes são altamente poluentes, é poliamido e petróleo", afirma. Segundo a artista, a peça Refúgio, curada para a SP-Arte, reflete "o que está sendo feito no planeta", assim como todas as suas outras obras, ressalta Nara: "O meu trabalho vem para gritar pelo planeta!". Conectando os tecidos à preocupação com o meio ambiente, Nara desenvolveu o que ela chama de "tricot completamente desconstruído". Com quatro anos de idade, ela aprendeu a tricotar de modo convencional, e ao longo do tempo desenvolveu a própria expressão artística, que se traduz em seu trabalho atual; como conta a artista: "A minha criação vem de manusear o lixo, que muitas vezes eu tinjo com cascas de cebola, erva mate, cúrcuma, e acaba saindo o que sai. Não é um plano, é uma expressão espontânea".

SERVIÇO: SP-Arte Rotas Brasileiras


28 agosto–01 setembro 2024 ARCA: Av. Manuel Bandeira, 360 - Vila Leopoldina (São Paulo - SP) Horários 28 agosto: convidados 29–31 agosto: das 12h às 20h 01 setembro: das 12h às 19h Ingressos R$ 80 (inteira) R$ 40 (meia-entrada) Bilheteria online