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Arquiteto desenvolve torre que coleta água potável do ar na Etiópia

Compreendendo uma estrutura de bambu, que suporta um material de poliéster no interior, a torre é barata e fácil de construir

Por Fernanda Drumond
24 dez 2020, 10h00
Imagem de dentro da torre, de baixo para cima
(Divulgação/CASACOR)

Em muitas aldeias remotas na Etiópia, a coleta de água é um grande desafio para a população. É preciso encontrar a fonte e ter certeza de que a água buscada não está contaminada com resíduos humanos e animais. A questão da escassez de água – que afeta mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo – chamou a atenção de grandes filantropos, como o cofundador da Microsoft Bill Gates. Também é um problema que os designers têm enfrentado de frente, como o arquiteto Arturo Vittori, que desenvolveu o projeto Warka Water, uma estrutura de bambu projetada para coletar água potável do ar.

A Warka Water foi apresentada ao mundo durante a Bienal de Veneza em 2012. A equipe por trás do projeto vem, desde então, desenvolvendo uma série de protótipos experimentais e  adicionais, instalando sua primeira torre piloto em uma vila rural no sul da Etiópia, em maio de 2015, que continua sendo monitorada. Lá, Arturo testemunhou aldeões vivendo no meio ambiente, muitas vezes sem água corrente, eletricidade, banheiro ou chuveiro. A população precisava caminhar longos percursos até a fonte de água, lagos desprotegidos frequentemente contaminados.

Crianças em primeiro plano observam a torre
(Divulgação/CASACOR)

A proposta de Vittori era um sistema leve, de fácil construção e independente de infra-estrutura, como o Warka. Compreendendo uma estrutura de bambu, que suporta um material de poliéster no interior, a torre é barata e fácil de construir. Vapor de água atmosférico da chuva, neblina ou orvalho, condensa-se contra a superfície fria da malha, formando gotículas de água líquida. Um toldo de tecido sombreia a parte inferior da torre para evitar que a água coletada evapore. O desempenho é dependente do tempo, mas a torre tem a capacidade de fornecer 100 litros de água por dia.

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Esquema ilustrando o funcionamento da torre
(Divulgação/CASACOR)

Vittori e sua equipe se inspiraram em várias referências para desenvolver a torre, incluindo bio-mimetismo, tradições locais e a Warka tree, que é uma figueira gigante nativa da Etiópia. A Warka Water foi projetada para ser de propriedade e operada pelos moradores, um fator chave, que facilita o sucesso do projeto. A torre não apenas fornece um recurso fundamental para a vida, mas também cria um lugar social para a comunidade, onde as pessoas podem se reunir à sombra de suas copas.

Detalhe de gotículas de água retidas na trama da torre
(Divulgação/CASACOR)

No total, o custo para montar uma torre fica entre US $ 500 e US $ 1.000 – menos de um quarto do custo do vaso sanitário desenvolvido por Bill Gates, que custa cerca de US $ 2.200 para instalar e mais para manter. Como seu design é basicamente paramétrico, a torre Warka pode ser facilmente adaptada e implementada em várias situações diferentes.

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Campo agrícola com torres espalhadas. Cabanas ao fundo e agricultores caminhando
(Divulgação/CASACOR)

O projeto Warka Water busca ajudar diferentes comunidades isoladas em lugares como o Haiti, Madagascar, Colômbia, Brasil, Índia, Sumba e Camarões, entre outros. Essa expansão não apenas estimulou a experimentação com outros materiais locais [inclusive as folhas de palmeira], mas também levou a uma série de projetos adicionais, que buscam resolver outras questões importantes. A iniciativa desenvolveu um sistema modular chamado W-solar, que transforma qualquer torre Warka em uma fonte de eletricidade, adicionando painéis solares para fornecer iluminação e energia para recarregar dispositivos móveis. Enquanto isso, a W-garden propõe um sistema que usa a água coletada para a produção de alimentos e W-Wc para a melhoria do saneamento e higiene.

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